domingo, 3 de abril de 2016

Traz um café, vamos falar de amor !?



Você consegue se lembrar qual foi sua primeira paixão? O que sentiu? Ou ainda sente talvez? Pense num amor avassalador, daqueles que desconcertam tudo que há dentro de você, confundem as certezas e solidificam os sentimentos, eu era adolescente quando essa história aconteceu. Era uma adolescente de hábitos comuns: morava com a família numa casa simples, a grana era curta, estudava pela manhã, filmes a tarde e a noite era para brincar. Éramos um grupo grande de adolescentes, tinham umas divisões por afinidade ou por proximidade de realidade, mas no final, todo mundo brincava com todo mundo! Por um acaso do destino, ou não, faziam parte desse grupo duas meninas que tinham uma vida um pouco mais tranquila do que o resto da galera e se davam bem por isso, que depois de uma briga se separaram e Manoela se aproximou de mim. Antes ela parecia tão distante, estudava em escola particular - era dedicada aos estudos, fazia curso de inglês, nos finais de semana cuidava dos cabelos, era vaidosa, suas roupas eram cheirosas assim como ela também era. Os finais de semana também serviam para as viagens a Araruama, os pais dela tinham casa lá; com a nossa aproximação ela passou a me convidar para umas viagens, eu tímida aceitava e as vezes não tinha uma peça de roupa maneira para colocar na mala, mas íamos! Ela tinha um gênio forte fazia relação com seu signo: gêmeos, signozinho persistente em passar pela minha vida! Tinha muitos namorados, ela se envolvia, se apaixonava, era frágil, mas trocava seus escolhidos com muita facilidade. Gostava de liberdade, tinha um excelente gosto musical - herança da mãe! Ela e eu tínhamos a mesma idade, mas ela era diferente nos pensamentos, nas ideias e até nas razões sentimentais, parecia estar à frente, pelo menos de onde eu olhava! Aos poucos tudo nela se tornou encantador, a presença dela me causava um bem que mal sabia explicar, ela era perfeita! Estávamos sempre juntas, ela sempre me convidava para as coisas, houve uma festa na escola dela, sabe aquelas festinhas que reuniam os mais populares da escola, então todo mundo estaria lá, inclusive o amor dela, topei ir, mas não tinha roupa, lembro perfeitamente, dela abrir seu armário e me deixar escolher o que quisesse de dentro dele, era tudo tão cheiroso, como ela, até então tudo parecia uma admiração ou um bem estar aconchegante, mas ali minha cabeça começou a mudar em relação ao que acontecia dentro de mim. Fomos à festa, voltamos para dormir na casa dela, eu tirei a roupa que era dela, mas aquele cheiro que havia ficado no meu corpo foi minha companhia até que eu pegasse no sono, a gente se aproximou de uma maneira que tudo era com ela, qualquer viagem, passeio, brincadeira, ela criou um código: um assobio, que me fazia sair correndo ao seu encontro não importasse onde eu estivesse. Estivemos juntas nesse ritmo por um bom tempo... Ela ia fazer quinze anos, a festa seria inesquecível, eu achava, ia ter uma dança, esses clichês que essas festas propõem, ela ensaiava num clube desses aí da vida, mas eu nem sabia que a veria dançar minha música preferida, na véspera da festa eu estava super ansiosa, fiz escova nos cabelos, fiz meus cachos passarem por isso, mas também ela merecia um sacrifício meu, rs! Cheguei na festa minha primeira visão foi ela, estava linda, num vestido singular - ela estava sempre a frente do que se esperava para sua idade, fiquei a observá-la por alguns segundos, meus olhos percorriam seus detalhes: cabelo, corpo, olhos, sorriso, como um ganhador que admira seu troféu, enfim a dança: ao fundo minha música favorita Bittersweet Symphony da banda The Verve, em volta dela uma espécie de neblina (feita por efeito de fumaça, claro), mas era perfeito, parecia um céu a sua volta, tudo exatamente perfeito, vê-la dançar fez com que um
arrepio que começou na nuca se espalhasse pelo meu corpo me fazendo imaginar o quanto seria divino tê-la comigo, pra sempre, talvez?! Ela dançou tão bem, perfeitamente bem, e eu ali, a expectadora mais concentrada nela. Em um determinado momento da festa ela veio ao meu encontro (até que enfim eu pensei) pegou minhas mãos e encaixou nas suas, a gente dançou, éramos só eu e ela na pista, na verdade acho que mesmo que houvesse alguém eu não iria notar, ela estava ali ao alcance das minhas mãos, pertinho dos meus olhos, surpreendentemente divina, tudo estava perfeitamente desenhado, como os traços de um bom arquiteto, até que uma terceira mão, por puro atrevimento a separou de mim levando aquele rosto de sorriso perfeito, o fazendo desaparecer na neblina que a fumaça fazia: era o namoradinho dela, que nem lembro o nome. Ali, naquela pista de dança, tudo que era confusão dentro de mim, se desfez junto com aquela fumaça, eu não a queria mais como uma amiga,, senti um aperto dentro de mim que só um sentimento poderia causar: amor!
Como fazíamos tudo junto, o sentimento que existia em mim só aumentava, comecei a sentir ciúmes de quem estava com ela: amigas, namorados, mas não sentia raiva, só um sentimento que me limitava, sabe? Era difícil conversar nas rodas de amigas dela, me sentia sempre sem assunto, a mente fervia de ideias, mas na boca nada saía. Quando ela apareceu com um novo namorado que era um Deus! Aquilo não me fez nada bem, ficávamos na casa dela até tarde: ela, o namorado e eu, ela não queria me deixar ir embora e ouvir os sussurros e barulho de bocas encostando uma na outra, era o fim, me deixava ainda pior.
Um dia resolvemos tomar banho de caixa d´água, a casa dela estava em obra e o pai comprou uma nova. Ela pediu para que ele enchesse de água para improvisarmos uma piscina, foi bem legal, lembro que nesse mesmo dia enchemos algumas bexigas e tacávamos nos ônibus que passavam (uma maldade da adolescência), a cena ainda é clara na minha cabeça, a cobradora do ônibus dando um pulo de susto por tomar um banho de bexiga, RS! Quando entramos na caixa, eu sugeri uma brincadeira: quem conseguiria ficar encarando mais tempo a outra e ela topou, a troca de olhares foi quase um convite ao passo seguinte, pensamos em tirar a parte de cima dos nossos biquínis e tiramos, começamos a rir ao nos olhar quase nuas, parte da água cobria metade do nosso corpo, já era tarde então lanchamos e fomos nos deitar; quando estávamos deitadas, eu a perguntei se me beijaria - morrendo de medo da resposta, primeiro disse: não, em seguida, disse: sim! Eu fiquei vermelha, tensa, comecei a tremer, mal podia acreditar que estava a um passo de acontecer, em milésimos de segundos minha boca tocaria a dela com todo o sentimento que havia em mim por ela, aconteceu da melhor maneira, foi muito bom, foi exatamente o que esperava, senti uma força muito louca que me atravessou ali, não fizemos sexo, não sabíamos muito bem o que estava acontecendo ali, mas era bom! No dia seguinte, mal nos olhávamos, já disse ela tinha uma sabedoria incrível para lidar com os fatos e para ela, nada havia acontecido, não era assim para mim, para mim era o fim do mundo.
Eu estava cada vez mais apaixonada, e o pior, ela sempre me chamava para tomar banho com ela, quando a olhava, nua, admirava seu corpo, ela era magra, poucos seios, curvas não muito fartas, meu único pensamento era tocar cada pedaço daquele corpo até que ele fosse totalmente meu, o meu desejo por ela aumentava a cada encontro, o sentimento aumentava chegando a beirar uma obsessão, eu só queria
estar com ela em todos os momentos, ficar a tarde inteira sentindo o cheiro de seus cabelos, da sua roupa de cama com amaciante, eu precisava, era antídoto! Eu comecei a viver a vida dela, foram dois anos vivendo nessa necessidade de tê-la sem ter.
Estávamos vendo Dirty Dancing, no momento da música She like the wind, ela perguntou se eu faria "aquilo" de novo com ela, o "aquilo" era nos beijar,nos tocar novamente fui a loucura com a proposta de beijá-la novamente! A beijei com toda voracidade que existia em mim, porém, eu não sabia bem como fazer e o que fazer, não sabia como era fazer sexo, estávamos na mesma faixa etária e descobrindo a sexualidade ao mesmo tempo, ainda era tudo muito novo, mas meu corpo precisava do dela, minhas mãos percorreram sua pele que era macia, a toquei por dentro da roupa ela pareceu assustada com o que poderia acontecer, eu pedi para ela relaxar, mas só toquei, por falta de experiência talvez, afirmei tê-la masturbado, mas hoje sei que não! Os beijos continuaram junto com os carinhos, tímidos, mas que faziam meus impulsos mais acelerados, eu a queria inteira, talvez para ela fosse uma descoberta, mas eu estava realizando o sonho de uma grande paixão, vestíamos apenas uma roupa de dormir, eu tirei a blusa do seu babydool, e toquei seus seios com delicadeza, ela se entregava aos poucos, eu não tinha muita habilidade para isso, mas era tanto desejo em ter aquela garota que fiz o que achava que seria prazeroso, fiz carinhos com meus lábios pelo seu corpo e ela delirava a cada toque meu, ela me retribui como podia, parecia meio travada, mas era maravilhoso sentir cada toque dela em mim, a gente se deitou e eu acariciei seus cabelos até ela pegar no sono, foi uma noite incrível, eu a deixei dormindo e fui para casa, pensando na loucura e na alegria que eu estava sentindo. Ficamos vivendo isso durante alguns anos, quando minha sobrinha nasceu e ela foi visitar, a cena dela com minha sobrinha em seu colo me derrubou e me despedaçou por dentro, ela toda derretida com a criança em seus braços, sorrindo - um sorriso de dentes perfeitos, aliás uma das coisas que eu mais admirava nela; fomos ao quarto da minha mãe para ficar conversando, ouvindo Radio Head, Fake Plastic, quando a olhei e decidi dizer a ela que a amava e assim eu fiz, disse o que sentia, eu já não aguentava mais ficar perto dela e não poder tocá-la, eu passava as noites olhando seu rosto quando dormíamos juntas e aquilo estava me fazendo mal, sua resposta, depois um tempo de silêncio, foi uma pergunta: “Você acha que precisa de um tempo?” Eu não sabia o que responder na verdade eu não queria responder, mas respondi, que achava que sim, ela saiu pela porta e eu não a vi mais, ela foi deixando em mim o melhor e pior sentimento que se pode viver numa paixão.


Agradeço, ao carinho da moça que sedeu essa história, com muita generosidade, pois ela não só sugeriu a ideia como escreveu o texto base desse resultado que está disponivel aí para vocês; obrigada pela confiança, pela colaboração e pela disponibilidade.
Um grande abraço, Daisy!

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